terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Estudo Errado - Gabriel O Pensador

Composição: Gabriel, O Pensador

Eu tô aqui Pra quê?
Será que é pra aprender?
Ou será que é pra sentar, me acomodar e obedecer?
Tô tentando passar de ano pro meu pai não me bater
Sem recreio de saco cheio porque eu não fiz o dever
A professora já tá de marcação porque sempre me pega
Disfarçando, espiando, colando toda prova dos colegas
E ela esfrega na minha cara um zero bem redondo
E quando chega o boletim lá em casa eu me escondo
Eu quero jogar botão, vídeo-game, bola de gude
Mas meus pais só querem que eu "vá pra aula!" e "estude!"
Então dessa vez eu vou estudar até decorar cumpádi
Pra me dar bem e minha mãe deixar ficar acordado até mais tarde
Ou quem sabe aumentar minha mesada
Pra eu comprar mais revistinha (do Cascão?)
Não. De mulher pelada
A diversão é limitada e o meu pai não tem tempo pra nada
E a entrada no cinema é censurada (vai pra casa pirralhada!)
A rua é perigosa então eu vejo televisão
(Tá lá mais um corpo estendido no chão)
Na hora do jornal eu desligo porque eu nem sei nem o que é inflação
- Ué não te ensinaram?
- Não. A maioria das matérias que eles dão eu acho inútil
Em vão, pouco interessantes, eu fico pu..
Tô cansado de estudar, de madrugar, que sacrilégio
(Vai pro colégio!!)
Então eu fui relendo tudo até a prova começar
Voltei louco pra contar:
Manhê! Tirei um dez na prova
Me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova
Decorei toda lição
Não errei nenhuma questão
Não aprendi nada de bom
Mas tirei dez (boa filhão!)
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
Decoreba: esse é o método de ensino
Eles me tratam como ameba e assim eu não raciocino
Não aprendo as causas e conseqüências só decoro os fatos
Desse jeito até história fica chato
Mas os velhos me disseram que o "porque" é o segredo
Então quando eu num entendo nada, eu levanto o dedo
Porque eu quero usar a mente pra ficar inteligente
Eu sei que ainda não sou gente grande, mas eu já sou gente
E sei que o estudo é uma coisa boa
O problema é que sem motivação a gente enjoa
O sistema bota um monte de abobrinha no programa
Mas pra aprender a ser um ingonorante (...)
Ah, um ignorante, por mim eu nem saía da minha cama (Ah, deixa eu dormir)
Eu gosto dos professores e eu preciso de um mestre
Mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa que preste
- O que é corrupção? Pra que serve um deputado?
Não me diga que o Brasil foi descoberto por acaso!
Ou que a minhoca é hermafrodita
Ou sobre a tênia solitária.
Não me faça decorar as capitanias hereditárias!! (...)
Vamos fugir dessa jaula!
"Hoje eu tô feliz" (matou o presidente?)
Não. A aula
Matei a aula porque num dava
Eu não agüentava mais
E fui escutar o Pensador escondido dos meus pais
Mas se eles fossem da minha idade eles entenderiam
(Esse num é o valor que um aluno merecia!)
Íííh... Sujô (Hein?)
O inspetor!
(Acabou a farra, já pra sala do coordenador!)
Achei que ia ser suspenso mas era só pra conversar
E me disseram que a escola era meu segundo lar
E é verdade, eu aprendo muita coisa realmente
Faço amigos, conheço gente, mas não quero estudar pra sempre!
Então eu vou passar de ano
Não tenho outra saída
Mas o ideal é que a escola me prepare pra vida
Discutindo e ensinando os problemas atuais
E não me dando as mesmas aulas que eles deram pros meus pais
Com matérias das quais eles não lembram mais nada
E quando eu tiro dez é sempre a mesma palhaçada

Refrão

Encarem as crianças com mais seriedade
Pois na escola é onde formamos nossa personalidade
Vocês tratam a educação como um negócio onde a ganância, a exploração, e a indiferença são sócios
Quem devia lucrar só é prejudicado
Assim vocês vão criar uma geração de revoltados
Tá tudo errado e eu já tou de saco cheio
Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio...

Juquinha você tá falando demais assim eu vou ter que lhe deixar sem recreio!
Mas é só a verdade professora!
Eu sei, mas colabora se não eu perco o meu emprego.

YouTube - Videoclipe - Gabriel O Pensador - Estudo Errado

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sábado, 22 de agosto de 2009

O CONTESTADO

Sábado, 22 de agosto de 2009.


Os Estados do Paraná e Santa Catarina passaram por uma das guerras civis brasileiras mais sangrentas de todos os tempos, uma guerra que provocou profundas mudanças no espaço territorial de ambos os Estados. As primeiras noções que temos desta guerra recebemos na escola, mas o assunto é tratado de forma tão superficial (pelo menos no Paraná) que a esquecemos. Desde os tempos do império, Paraná e Santa Catarina disputavam o domínio de uma região, situada em torno das cidades de Palmas, União da Vitória, Canoinhas, Curitibanos, Caçador e Rio Negro, uma região de aproximadamente 48.000m². Por causa da disputa, a área foi chamada de Contestado. Quando veio a República, a tensão aumentou, porque os Estados ganham o poder de doar terras. Tanto o Paraná quanto Santa Catarina, para assegurar o poder sobre o Contestado, começam a conceder títulos de propriedade sobre a mesma área. Isso acelerou as disputas entre os novos proprietários e provocou a expulsão dos posseiros pobres, que moravam em terras pertencentes ao governo e tinham direito a posse, pois estavam ali havia muito tempo. Milhares de pessoas foram expulsas e tanto o Paraná quanto Santa Catarina ofereciam força policial para o despejo dos caboclos. A situação se complicou quando foram dadas concessões a ferrovias estrangeiras, como a companhia americana Lumber, que explorava a madeira ao longo das terras recebidas para a construção da estrada de ferro, levando à falência os madeireiros locais. Os expulsos foram se agrupando em torno da única esperança que encontraram: as promessas religiosas do "monge" João Maria de Agostinho, que na verdade se chamava Anastás Margraf. Por volta de 1910, João Maria desapareceu, sendo substituído em 1912 por José Maria de Agostinho, que se dizia irmão do primeiro "monge", conta-se que era um fugitivo da cadeia de Palmas, chamado Miguel Lucena de Boaventura. Os "monges" falavam do fim de todos os males, de um paraíso na Terra, pregando a volta da Monarquia. Como a situação piorara após a proclamação da República, os caboclos aderiram rapidamente à defesa da Monarquia extinta. Agora chamados de "fanáticos", pela devoção ao monge José Maria, eles se uniram e, sob a liderança do monge, formaram os "Doze Pares de França", um grupo militar de inspiração religiosa que proclamou como imperador um fazendeiro da região. O governo de Santa Catarina mandou uma força policial dispersar o reduto monárquico. Os fanáticos fugiram então para os campos do Irani, no município de Palmas, em território paranaense (pelo menos reivindicado pelos paranaenses). O governo do Paraná achou que era uma manobra catarinense para se apossar da região contestada, pois sabia-se que os caboclos portavam armas. O Paraná mandou uma tropa contra os fanáticos, comandada pelo coronel João Gualberto Gomes de Sá. O comandante subestimou a força dos posseiros; deixou a maior parte da tropa em Palmas e seguiu para o Irani com apenas 64 homens, confiante na experiência dos soldados e na potência das armas, principalmente de uma metralhadora. Na passagem de um riacho, no entanto, a metralhadora caiu na água e pifou (outra versão diz que não houve tempo para armar a metralhadora). Quando chegou ao acampamento dos fanáticos, João Gualberto caiu numa emboscada, onde 200 guerrilheiros dizimaram os soldados. O monge José Maria morreu no combate juntamente com o comandante João Gualberto. Era o dia 22 de outubro de 1912, início de uma guerra que duraria quatro anos e provocaria milhares de mortes. A guerra termina em 1916 após a rendição dos rebeldes. Neste mesmo ano, Paraná e Santa Catarina assinam um acordo, dividindo as terras contestadas. Na realidade a guerra não acabou em 1916, pois ainda seguiram-se expulsões e mortes na região. Uma verdadeira “limpeza”, no território. Porém a história do Contestado não fica resumida a brigas de fronteiras. De nada adianta contar a história apontando apenas seus heróis e malfeitores. O espírito do Contestado manifesta-se no povo espoliado daquela região em litígio. Os brasileiros que na sua solidariedade dividiam tudo que tinham. Viviam em uma verdadeira irmandade cabocla. Respiravam a esperança de ver restabelecida na região a justiça. Aguardavam a justiça divina, pois na justiça dos homens não acreditavam mais. Alimentavam-se na solidariedade dos seus iguais. Lutavam contra o estrangeiro em suas terras. Passados mais de 90 anos, ainda podemos ver o resultado da devastação daquela região. Onde um dia reinava soberano o pinheiro hoje vemos a invasão desvairada do pinus. Terras ainda em mão de grandes proprietários. Multinacionais ainda exploram a região. População carente de tudo, (saúde, educação, moradia, emprego...) ainda abandonada. A pobreza está a olhos vistos e cabe não somente aos governantes, mas também a nós, professores e pesquisadores, lutarmos para que este quadro possa mudar. Quando levamos a informação à sala de aula e aos demais setores da sociedade, estamos contribuindo para esta melhoria.